domingo, 10 de julho de 2011

Lenda do Olho D´Água da Bica

Começa a semana de comemoração de 243 da fundação de Cuité (17 de julho), disponibilizo abaixo a Lenda do Olho D´Água da Bica, versão do professor Demócrito Júnior, que adaptou brilhantemente os vestígios da memória coletiva cuiteense em personagens e cenários bem detalhados, confeccionando uma linda história que esta semana deveria passear pelas salas de aulas de nossa cidade.




A LENDA DO OLHO D’ÁGUA



Há muito tempo atrás, na velha Cordilheira da Borborema, na altura da Serra do Coité, existia uma nação indígena denominada SUCURUS. Viviam de coleta de frutas, plantavam e caçavam pássaros e pequenos roedores. Uma das maiores tradições era a “Festa do Caju”, onde se reuniam várias tribos para a troca anual de alimentos e objetos típicos e dançavam e bebiam a “Cajuína” (bebida extraída do Caju que acreditavam dar muita força e resistência).
Esta tribo situava-se abaixo de um despenhadeiro, onde jorrava de suas pedras água pura e cristalina, ladeada de enormes gameleiras e jatobás, atingindo com suas copas o cume da pedreira. Assim era a vida pacata dos felizes Sucurus.
Entre os guerreiros da tribo destacavam-se o índio TARENÊ (TARA, valente e ENÊ, beleza), por seu espírito de luta e liderança. Tudo em harmonia, até que um dia a tribo recebeu a inesperada visita de uma linda princesa, que a todos encantou. Sua pele era clara, cabelos como ouro de suas jóias, olhos azuis e brilhantes, nariz afilado, boca pequena e bem vermelha, e um vestido prateado. A moça parecia vir de uma terra distante e misteriosa. Ao deparar-se com Tarenê, cruzaram os olhares e sentiram-se atraídos pelo feitiço do amor. A princesa com a voz trêmula, falou: Meu nome é INÁ, venho das terras de além-mar.
O jovem e virtuoso apaixonado, queria casar com a jovem princesa. O grande chefe Sucuru ao tomar conhecimento não deu permissão para o pretendido desejo, pois quebraria uma tradição de um longo tempo entre os Sucurus. Tarenê, ficou muito triste e aborrecido e recolheu-se para meditar sobre o seu destino. Chovia bastante, noite escura, a princesa Iná dormia quando Tarenê entrou. Não contendo as lágrimas, contemplou-a e... não podia voltar atrás, com a pedra que trazia nas mãos, matou-a. Juntos ao seu corpo suas jóias e suas vestes e tomando-a no braços, sepultou-a numa caverna próximo à tribo. O guerreiro desesperado subiu uma grande pedreira e jogou-se abismo abaixo, na certeza de um dia encontrar com a amada na eternidade.
A tribo espantada consultou o feiticeiro sobre o mistério da morte da princesa e do guerreiro. Em silêncio, ele começou o ritual no sopé daquela grande pedra, perto do veio d’ água onde o mortal Tarenê caiu e na pedra escreveu uma mensagem enigmática. Rompendo o silêncio disse: “aquele que a decifrar desencantará e casará com a princesa e possuirá todo o seu reino e sua riqueza”. Serão inundadas todas as terras indígenas e sobreviverá apenas os dois que viverão para sempre. Até hoje, no Olho D’Água da Bica, na Serra de Cuité, continua gravada na grande pedreira esta mensagem, sob a proteção dos ferrões dos milhares de marimbondos, aos quais a natureza vem incumbindo esta árdua tarefa a séculos.



Demócrito Humberto da Fonseca Júnior – Professor/Historiador/Contista

FONSECA JÚNIOR, Demócrito Humberto. A Lenda do Olho D´Água. Mundo Criança. Cuité: Escola “O Pequeno Doutor”, publicação abril/maio, 1994.


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