quarta-feira, 16 de julho de 2014

 17/07/2014 -246 anos de fundação de Cuité
Nesta data de 17 de julho só me vem a mente a paisagem do Olho D'Água da Bica!
Pintar eu não sei, senão faria uma pintura que retratasse os índios ali, tomando água, bem como nos seus afarezes diários, enquanto se aproximava a princesa paixão.
Desenhar não sei, senão faria um livro em quadrinhos contando além de outras coisas uma cena que demonstra dois sujeitos, um avô e seu netinho descendo a ladeira para tomar banho pela madrugada para curar suas gripes.
Rimar, muito pouco senão faria algumas estrofes falando da Paixão de Cristo que ali é encenada, que aproxima arte, fé, natureza e família num só espaço.
Cantar, quase nada senão buscaria músicas para cantar como as lavadeiras que até hoje trabalham cantando a vida a partir das cinco horas da manhã..
Sendo assim apenas copio e colo abaixo a lenda do Olho Dágua adaptada pelo meu amigo e professor Júnior de Moca, que escreve muito bem e nos remete a uma viagem no tempo com seus personagens e paisagens e merece ser lembrado (e motivado) como um grande escritor cuiteense.   


A LENDA DO OLHO D’ÁGUA

Versão (Demócrito Junior)

Há muito tempo atrás, na velha Cordilheira da Borborema, na altura da Serra do Coité, existia uma nação indígena denominada SUCURUS. Viviam de coleta de frutas, plantavam e caçavam pássaros e pequenos roedores. Uma das maiores tradições era a “Festa do Caju”, onde se reuniam várias tribos para a troca anual de alimentos e objetos típicos e dançavam e bebiam a “Cajuína” (bebida extraída do Caju que acreditavam dar muita força e resistência). Esta tribo situava-se abaixo de um despenhadeiro, onde jorrava de suas pedras água pura e cristalina, ladeada de enormes gameleiras e jatobás, atingindo com suas copas o cume da pedreira. Assim era a vida pacata dos felizes Sucurus.

Entre os guerreiros da tribo destacavam-se o índio TARENÊ (TARA, valente e ENÊ, beleza), por seu espírito de luta e liderança. Tudo em harmonia, até que um dia a tribo recebeu a inesperada visita de uma linda princesa, que a todos encantou. Sua pele era clara, cabelos como ouro de suas jóias, olhos azuis e brilhantes, nariz afilado, boca pequena e bem vermelha, e um vestido prateado. A moça parecia vir de uma terra distante e misteriosa. Ao deparar-se com Tarenê, cruzaram os olhares e sentiram-se atraídos pelo feitiço do amor. A princesa com a voz trêmula, falou: Meu nome é INÁ, venho das terras de além-mar.

O jovem e virtuoso apaixonado, queria casar com a jovem princesa. O grande chefe Sucuru ao tomar conhecimento não deu permissão para o pretendido desejo, pois quebraria uma tradição de um longo tempo entre os Sucurus. Tarenê, ficou muito triste e aborrecido e recolheu-se para meditar sobre o seu destino. Chovia bastante, noite escura, a princesa Iná dormi quando Tarenê entrou. Não  contendo as lágrimas, contemplou-a e... não podia voltar atrás, com a pedra que trazia nas mãos, matou-a. juntos ao seu corpo suas jóias e suas vestes e tomando-a no braços, sepultou-a  numa caverna próximo à tribo. O guerreiro desesperado subiu uma grande pedreira e jogou-se abismo abaixo, na certeza de um dia encontrar com a amada na eternidade.

            A tribo espantada consultou o feiticeiro sobre o mistério da morte da princesa e do guerreiro. Em silêncio, ele começou o ritual no sopé daquela grande pedra, perto do veio d’ água onde o mortal Tarenê caiu e na pedra escreveu uma mensagem enigmática. Rompendo o silêncio disse: “aquele que a decifrar desencantará e casará com a princesa e possuirá todo o seu reino e sua riqueza”. Serão inundadas todas as terras indígenas e sobreviverá apenas os dois que viverão para sempre. Até hoje, no Olho D’Água da Bica, na Serra de Cuité, continua gravada na grande pedreira esta mensagem, sob a proteção  do ferrões dos milhares de marimbondos, aos quais a natureza vem  incumbindo esta árdua tarefa a séculos.

Demócrito Humberto da Fonseca Junior – Professor/Historiador/Contista

terça-feira, 15 de julho de 2014


Lembranças inventadas, saudades verdadeiras.


Maria! Vamos mulher, tá quase na hora da tua tia passar para pegar a gente.
Tô indo... Firmina cadê meus frisos?
Vem, você não pode se atrasar não, logo hoje que você é a madrinha. Quanta inveja menina, mas um dia serei eu.

Escutei tudo isso... pelas frestas do teclado que compartilhava mesma parede, minha adorada vizinha.

 “Fon fon”, buzina o Ford 1947 em sua porta, Maria Vitória, que receberá a faixa de madrinha do Cuité Clube de 1965. Uma honra para toda sua família, ser madrinha é deter beleza e grande prestígio.

Lembro como se fosse hoje: lá vem Maria, cabelos lisos, perfumada, muito perfumada, com um vestido tão alvinho que parecia clara de ovo que minha mãe fazia bolo para mim e meus irmão..

De minha casa, sentia aquele perfume francês da minha vizinha linda.  Naquele momento queria crescer logo para poder ir com aquelas meninas para o baile, dançar com ela, com Maria, aquela que roubara meu coração.

Maria, ave Maria...

O carro foi embora passando entre os buracos da nossa rua e virando a direita, ali perto do pé de ipê que eu sempre ficava quando era sua hora de ir para escola, rezei para ela olhar para trás, ela, não olhou.

São lembranças de quando eu tinha meus dezesseis anos e Maria dezenove. Maria viajou, casou. Eu também, mas nunca esqueço daquela minha primeira paixão, sempre que passo enfrente a este Clube me vem a mente o rosto lindo de Maria, aquele sorriso de boneca e o perfume... sua voz, que voz.

Criei esse pequeno texto para ilustrar um pouco e brincar com o leitor. Mas também para demonstrar a força que os espaços têm em trazer lembranças.

Nosso objetivo em realizar a festa é essa poder trazer lembranças, reviver memórias e ao mesmo tempo demonstrar a quem não viveu este período que ele ou qualquer outro que demande lembranças/sentimentos deve ser valorizado.

Patrimônio Cultural não é só o prédio, o papel, mas sensibilidades vividas e por eles repassados. “Um presente é constituído por muitos passados”. No plural, sim, pois se trata de fatos e fatores vividos por muitas pessoas, cada uma com suas particularidades.

Veja fotos do Baile do Cuité Clube 2014







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