17/07/2014 -246 anos de fundação de Cuité
Nesta data de 17 de julho só me vem a mente a paisagem do Olho D'Água da Bica!
Pintar eu não sei, senão faria uma pintura que retratasse os índios ali, tomando água, bem como nos seus afarezes diários, enquanto se aproximava a princesa paixão.
Desenhar não sei, senão faria um livro em quadrinhos contando além de outras coisas uma cena que demonstra dois sujeitos, um avô e seu netinho descendo a ladeira para tomar banho pela madrugada para curar suas gripes.
Rimar, muito pouco senão faria algumas estrofes falando da Paixão de Cristo que ali é encenada, que aproxima arte, fé, natureza e família num só espaço.
Cantar, quase nada senão buscaria músicas para cantar como as lavadeiras que até hoje trabalham cantando a vida a partir das cinco horas da manhã..
Sendo assim apenas copio e colo abaixo a lenda do Olho Dágua adaptada pelo meu amigo e professor Júnior de Moca, que escreve muito bem e nos remete a uma viagem no tempo com seus personagens e paisagens e merece ser lembrado (e motivado) como um grande escritor cuiteense.
A LENDA DO OLHO D’ÁGUA
Versão (Demócrito Junior)
Há muito tempo atrás, na velha Cordilheira da
Borborema, na altura da Serra do Coité, existia uma nação indígena denominada
SUCURUS. Viviam de coleta de frutas, plantavam e caçavam pássaros e pequenos
roedores. Uma das maiores tradições era a “Festa do Caju”, onde se reuniam
várias tribos para a troca anual de alimentos e objetos típicos e dançavam e
bebiam a “Cajuína” (bebida extraída do Caju que acreditavam dar muita força e
resistência). Esta tribo situava-se abaixo de um despenhadeiro, onde jorrava de
suas pedras água pura e cristalina, ladeada de enormes gameleiras e jatobás,
atingindo com suas copas o cume da pedreira. Assim era a vida pacata dos
felizes Sucurus.
Entre os guerreiros da tribo destacavam-se o
índio TARENÊ (TARA, valente e ENÊ, beleza), por seu espírito de luta e
liderança. Tudo em harmonia, até que um dia a tribo recebeu a inesperada visita
de uma linda princesa, que a todos encantou. Sua pele era clara, cabelos como
ouro de suas jóias, olhos azuis e brilhantes, nariz afilado, boca pequena e bem
vermelha, e um vestido prateado. A moça parecia vir de uma terra distante e
misteriosa. Ao deparar-se com Tarenê, cruzaram os olhares e sentiram-se
atraídos pelo feitiço do amor. A princesa com a voz trêmula, falou: Meu nome é
INÁ, venho das terras de além-mar.
O jovem e virtuoso apaixonado, queria casar com
a jovem princesa. O grande chefe Sucuru ao tomar conhecimento não deu permissão
para o pretendido desejo, pois quebraria uma tradição de um longo tempo entre
os Sucurus. Tarenê, ficou muito triste e aborrecido e recolheu-se para meditar
sobre o seu destino. Chovia bastante, noite escura, a princesa Iná dormi quando
Tarenê entrou. Não contendo as lágrimas,
contemplou-a e... não podia voltar atrás, com a pedra que trazia nas mãos,
matou-a. juntos ao seu corpo suas jóias e suas vestes e tomando-a no braços,
sepultou-a numa caverna próximo à tribo.
O guerreiro desesperado subiu uma grande pedreira e jogou-se abismo abaixo, na
certeza de um dia encontrar com a amada na eternidade.
A tribo
espantada consultou o feiticeiro sobre o mistério da morte da princesa e do
guerreiro. Em silêncio, ele começou o ritual no sopé daquela grande pedra,
perto do veio d’ água onde o mortal Tarenê caiu e na pedra escreveu uma
mensagem enigmática. Rompendo o silêncio disse: “aquele que a decifrar desencantará
e casará com a princesa e possuirá todo o seu reino e sua riqueza”. Serão
inundadas todas as terras indígenas e sobreviverá apenas os dois que viverão
para sempre. Até hoje, no Olho D’Água da Bica, na Serra de Cuité, continua
gravada na grande pedreira esta mensagem, sob a proteção do ferrões dos milhares de marimbondos, aos
quais a natureza vem incumbindo esta
árdua tarefa a séculos.