sábado, 9 de julho de 2011

Alguns detalhes da “Nova História” (Israel Araújo)




A história, enquanto seu significado de releituras de um passado, permanentemente modifica seus conceitos. Atualmente estamos vivenciando um momento em que se reoganiza e ao mesmo tempo redistribui variados focos para ao historiador. Reorganizar no momento que disponibiliza possíveis e infinitos caminhos para se chegar a objetivos comuns: tentar entender como em momentos não mais “vividos”, este vivido foi significado; reorganizar-se, no instante que apesar de repensar sobre seu ofício, não se coloca fronteiras de verdade naquilo que se pretende alcançar, ao contrário percebe-se, agora, que por si, a história é lacunar, que é impossível “visualizar” o fato passado/consumido, mas que ele é apenas retornável em alguns de seus vestígios que por muitos ângulos podem, ainda, (em alguns casos) ser (re)contado.


A história passou a ser (re)contada, a partir de um horizonte mais amplo, (de)mostrando o agir, sentir, o fazer, dos atores sociais, ou seja, as sensibilidades e subjetividades dos homens no seu lugar e contexto, bem como a seleção dos lugares e utilização dos seus espaços , portanto a história passa a contar a “história dos homens no tempo”, como disse Marc Bloch , por isso, deixam vestígios (em seus atos e omissões) em diversos objetos e/ou memórias, capazes de explicitarem as vezes de forma “nítida”, esse novo tipo e ampliação das possibilidades de leituras, haja vista que em tudo o homem deixa suas “digitais” e com isso o grau de possibilidades de novas leituras é ampliado. E, o “novo” historiador, percebe e tem consciência, ainda, (sendo uma das inovações) que muitas destas são encontradas deformadas e até mesmo foram deixadas planejadamente dilaceradas ou mesmo embaçadas pelos autores da cena “do fato”, por uma questão de vontade de verdade .


Essa abertura dá início a partir da Escola dos Annales, a um novo de entendimento sobre a história, seus objetos e sua produção, à compreender, por diversas maneiras e olhares, até mesmo pelas suas interdependências (interdisciplinaridade) despertada por Febrve, companheiro de Bloch, onde se percebe, a partir de então, rastros sobre caminhos que “foram” percorridos, porque esse “novo” posicionar histórico do qual não necessita se prender somente a documentos em sua literal concepção burocrática (dita oficial), mas a partir de enfoque diversos e “zoons” de potencialidade alta, capazes de perceber sensibilidades, práticas e discursos, até então, “desprezadas”.


É pois, colocado em campo um novo time, o da “nova história ”, é iniciado um “novo” modo de ler e de escrever a história, novo entre aspas na perspectiva que não é tão novo assim. Pelo que diz Peter Burke, antes mesmo do Annales já se escrevia sobre a história das culturas subalternas, já se utilizava da oralidade, mas não eram colocadas em um patamar válido como atualmente. A nomenclatura “Nova História” é pelo menos, entendamos, também assim, um novo olhar sobre a história, sobre as possibilidades de escrevê-la e lê-la, haja vista que ela é isenta de essência cheia de variedades, de multiplicidades, é plural em suas singularidades, chegando ao ponto de o mesmo teórico que se debruça sobre ela, pensar sobre sua periculosidade, seus vazios e “arrodeios”, perceber que muitas vezes saber que muitas as peças do quebra cabeça, foram perdidas, mas ele procura unir, experimentar, entender um pouco a partir das que consegue ter contato.


Ao se trabalhar com a nova história, somos incumbidos, a manusear o conceito de cultura dessa conjectura, aos quais sugerem os autores da última geração dos Annales, ao que convergem no sentido de que cultura é uma relação modificadora, material e subjetiva entre homem-natureza, homem-homem, um jogo de artes do fazer, uma construção discursiva que se (re)copia, a partir do usuários e os materiais disponíveis e disponibilizados, ao seu redor, bem como em relação consigo mesmo. Intercambiando seus pensamentos, retornando suas experiências, fusão conceitual a partir das colocações de Certeau e Folcault, mas que têm colaborações ainda de outros autores: Peter Burke e o próprio Chartier, 1990, o qual diz que essa nova história, para ele nomeada, história do cultural, identifica o modo como em diferentes lugares e momentos determinada realidade social é construída, pensada dada ler, ou seja, um dos objetivos dessa nova história é entender que num determinado espaço e tempo houve uma construção que fora pensada e posta a ser apropriada (ou não).


Essa cultura, que pode ser observada a partir das maneiras do fazer, conforme Certeau (2004), o próprio lugar de paquera (ou flertes como eram dito no período) e de namoro, que se forjou e é objeto deste trabalho, é vestígio de uma prática de fazer e, claro de um dizer, que sendo na cidade ou no campo, teve palcos de significações, trocas e fabricação de regras, que são possíveis de (re)ler. E é através dessa história do cultural, que teremos os vestígios “à mão”, para dar prosseguimento à escrita de uma história por si é incompleta, pois se trata de um assunto que os colaboradores expõem com reserva, pois são suas intimidade e a do seu grupo que postasse a ser recontada. Os detalhes do cotidiano são a partir de agora “escavado” com um olhares mais atentos, já sabemos, que poderão ser encontrados vestígios, até, faltosos ou com camadas de películas que “indisponibilizam” a observação do objeto, portanto, de sua total utilização. Enquanto, por outro lado, esperamos, ler o acúmulo de sujeira ou falta desta, problematizando os excessos e/ou sua escassez, que foram observáveis quando “emergidas” pela pesquisa.


Por fim, podemos por esses vestígios teóricos acima perceber que a história avança em seu sentido de possibilidades (novos objetos são alcançáveis, novos sujeitos se aproximam da história), uma vez que a história positivista (verdade posta como pronta e acabada pelo livro didático), apesar que também fundamental, não é a única maneira de entender, apreender e vivenciar a história enquanto disciplina/acontecimento, pois esse novo olhar, que nos faz perceber os detalhes não “reais” destas verdades nos leva a trilhas mais adiante, questionáveis e buscando lapidar ao que até agora foi descoberto, mas mais importante entender a construção da verdade atingida.

Bibliografia:

BLOCH, Marc. Leopold Benjamim, Apologia da História ou ofício ou historiador. Rio de janeiro: Jorge Zahar, 2001.
BURKE, Peter. A Revolução da Historiografia: a escola annales, 1929-1989, São Paulo: ed. Universidade Estadual Paulista, 1991.
____________. A Escrita da História: novas perspectivas, São Paulo: Universidade Estadual Paulista, 1992.

CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990.
CERTEAU, Michel de. A Escrita da História: 2 ed. Rio e Janeiro: Forense Universitária, 2007.
____________________. A Invenção do Cotidiano: artes de fazer. 10 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
FOUCAULT, Michel. A Ordem do Discurso: aula inaugural no College de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. Trad. 17. ed. São Paulo: Loyola, 2008.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História e História Cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.

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