terça-feira, 26 de julho de 2011

Cultura e internet: conceitos e reflexões (lampejos)


O que é cultura para você? Seria Felipe Medeiros tocando um “pinicado” com um trio pé-de-serra no terreiro da casa de taipa pelas “bandas do sítio marimbondo”? A arte do fazer da Senhoria Maria do balaio, que faz caçuá, bolsas e balaios de cipós? A boneca de pano e/o outros artigos confeccionados pela casa do artesão? Você responderia assim? Alguns diriam algo parecido. Outros, noutra perspectiva: saber um determinado assunto cientifico; um conjunto mnemônico de um repertório musical ou poético-lírico; ter um título de Doutor.  E apareceria alguns respondendo: estar ligado à internet 24 horas. Conforme Certeau 2004, cultura seria “uma relação modificadora, material e subjetiva entre homem-natureza, homem-homem, um jogo de artes do fazer, uma construção discursiva que se (re)copia, a partir do usuários e os materiais disponíveis e disponibilizados, ao seu redor, bem como em relação consigo mesmo”. Então, Quem estaria certo, quais opiniões demonstram o que seria cultura hoje? Segundo este autor, a cultura seria tudo isso, que juntos (jeitos, maneiras de fazer, utilizar e refletir sobre coisas que o homem faz), modifica e é modificado por esse sujeito cultural.


Foquemos na última possibilidade: seria então cultura, as noites que ficamos na internet, seria cultura ter um blog, ir fazer algo e twittar ou depois de ter o feito? Seria cultura receber um email e sair correndo para uma reunião e ficar horas observando projetos que deixara tudo pronto para ser exibido como um passe de mágica (programado). Certeau afima que sim, diz que é tudo aquilo que muda nossa relação com o mundo e conosco mesmo, tem status de cultura. Então tudo é cultura. Mas nem sempre foi pensado assim, esse conceito foi se transformando com tempo, a cultura era dividida como de elite e popular, uma relação dualística, hoje, não mais toma parte de todo o conjunto representacional do que se trata e como se trata a Cultura.

Por isso, aqueles que pensam que são os únicos a terem cultura por possuírem recursos e contatos com bibliografias, fiquem sabendo que o saber cotidiano, do homem do campo, da cozinheira, do vaqueiro, vale tão quanto as páginas diversas de outros especialistas, ou seja, o grau de cultura não deve ser medido pela quantidade, na verdade não se deve, nem se pode medir a culturabilidade de ninguém, subjetividades convergem e se espalham a todo momento, penso cotidianamente, francamente, que a cada dia que converso pela rua, pelos sítios, que quase nada sei da vida e do mundo.

Por isso, seria prudente utilizar mais o computador para conversar que postar sentimentos soltos. Mas se há mudança, se podemos aprender com nossas próprias ações, se esse pensamento postado rapidamente nos faça pensar sobre nós mesmos e quem sabe esse mesmo trecho de nós, desperte algo no outro, no usuário  "desconhecido", então, postemos mais, falemos mais no MSN. Somente tomemos cuidados pela vulgarização de nossas próprias memórias virtuais, ou seja, nem tudo deve ser dito no chat, muitos IPs estão nos vigiando, é uma liberdade não liberta, podemos pensar: a carta violada de ontem seria hoje o email desviado.

Por fim, adicionemos a nossa barra de favoritos tudo aquilo que queremos, achamos de interessante, por que daqui a pouco, ou instantes, excluiremos eles, pois somos mutáveis e gostar e não gostar está tão próximo que às vezes deixamos outras pessoas escolher por nós (propagandas). O que posso dizer, é que devamos ser curiosos, buscar notícias, opiniões, para formar as nossas. Graças a internet muitas de nossos dúvidas podem ser tiradas no momento, informações locais conhecidas (antes não sabíamos de muitas coisas que aconteciam "no nosso muro"), muitos de nossos amigos revistos, tudo isso através de blogs, sites, portais, emails, redes sociais. O meio não importa, o que interessa é a possibilidade que ela, a internet, nos dá para envolver o outro (com entretenimento, conhecimento, etc) de podemos entender o mundo, sua rapidez  como algo construído e que se tem espaço para todos e que as opiniões e saberes fazem parte de uma rede universal e indissolúvel: a cultura, que hoje viaja pela linhas e ondas virtuais nesce, sim, nas vias eléstricas de nossos milhões de neurônios. Por isso, não podemos deixar de lado também a conversa de fim de tarde com o amigo, (cara a cara); beijar quem gostamos, apertar a mão na hora de um parabéns. E lembrar sempre: que a peça fundamental para qe tudo isso funcione está entre a cadeira o monitor. Linkemos-nos!

Israel Araújo

REFERÊNCIAS:

CERTEAU, Michel de. A Invenção do Cotidiano: artes de fazer. 10 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.



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