terça-feira, 15 de julho de 2014


Lembranças inventadas, saudades verdadeiras.


Maria! Vamos mulher, tá quase na hora da tua tia passar para pegar a gente.
Tô indo... Firmina cadê meus frisos?
Vem, você não pode se atrasar não, logo hoje que você é a madrinha. Quanta inveja menina, mas um dia serei eu.

Escutei tudo isso... pelas frestas do teclado que compartilhava mesma parede, minha adorada vizinha.

 “Fon fon”, buzina o Ford 1947 em sua porta, Maria Vitória, que receberá a faixa de madrinha do Cuité Clube de 1965. Uma honra para toda sua família, ser madrinha é deter beleza e grande prestígio.

Lembro como se fosse hoje: lá vem Maria, cabelos lisos, perfumada, muito perfumada, com um vestido tão alvinho que parecia clara de ovo que minha mãe fazia bolo para mim e meus irmão..

De minha casa, sentia aquele perfume francês da minha vizinha linda.  Naquele momento queria crescer logo para poder ir com aquelas meninas para o baile, dançar com ela, com Maria, aquela que roubara meu coração.

Maria, ave Maria...

O carro foi embora passando entre os buracos da nossa rua e virando a direita, ali perto do pé de ipê que eu sempre ficava quando era sua hora de ir para escola, rezei para ela olhar para trás, ela, não olhou.

São lembranças de quando eu tinha meus dezesseis anos e Maria dezenove. Maria viajou, casou. Eu também, mas nunca esqueço daquela minha primeira paixão, sempre que passo enfrente a este Clube me vem a mente o rosto lindo de Maria, aquele sorriso de boneca e o perfume... sua voz, que voz.

Criei esse pequeno texto para ilustrar um pouco e brincar com o leitor. Mas também para demonstrar a força que os espaços têm em trazer lembranças.

Nosso objetivo em realizar a festa é essa poder trazer lembranças, reviver memórias e ao mesmo tempo demonstrar a quem não viveu este período que ele ou qualquer outro que demande lembranças/sentimentos deve ser valorizado.

Patrimônio Cultural não é só o prédio, o papel, mas sensibilidades vividas e por eles repassados. “Um presente é constituído por muitos passados”. No plural, sim, pois se trata de fatos e fatores vividos por muitas pessoas, cada uma com suas particularidades.

Veja fotos do Baile do Cuité Clube 2014







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