Joselito F. de Macêdo, popular Daxinha.
Amante da poesia desde criança, temas diversos, lembranças, causos, críticas e humor fazem de sua obra uma mescilânea de qualidade cultural da mesma autêntica regionalidade. Cuiteense do Sítio Pelado, nos deixou alguns anos atrás. Tinha a grata satisfação e necessidade de expressar seus sentimentos pela poesia. Com mais de cem obras, esta é uma delas de uma mote visto na televisão: O Batente de Pau de Casarão.
O batente de pau do casarão
1- Assisti uma dupla repentista
Se apresentando na Tv Diário
No domingo dez e meia era o horário
E Geraldo Amâncio com a lista
Anunciava cada cordelista
O mais baixo seu nome era João
Paraibano, o outro, Sebastião
Dias do Rio Grande do Norte
Que cantaram em um mote muito forte
O batente de pau do casarão
2- Fez lembrar-me de minha ex-morada
E daqueles bons tempos de criança
Que estavam gravados na lembrança
Mais eu já não lembrava quase nada
Se repente senti uma fisgada
Que abalou de uma vez meu coração
Da caneta já fui cansando a mão
E pedi forças ao divino Pai Eterno
Para escrever nas páginas do meu caderno
Sobre o batente de pau do casarão
3- É que na casa que nasci, meu pai nasceu
E na mesma, meus avós criaram ele
E pelas conversas que ouvi dele
Foi ali que meu bisavô viveu
Mas nem um deles sabia quem a ergueu
E nem quem planejou a construção
Se nos reparos prá sua construção
Sua planta foi ou não modificada
Mas uma peça se manteve inalterada:
Foi o batente de pau do casarão
4- falar daquela casa é pra mim
Um motivo de grandes alegrias
Em reviver os meus melhores dias
Que guardei na memória até o fim
Aquela casa foi construída assim
Com quatro janelas na frente e um portão
Ficando em uma direção
Com a frente virada para o norte
Mas a lembrança que sinto muito forte
É do batente de pau do casarão
5- lembro que no alpendre da morada
Tinha uma bancada de cimento
No torno, um velho encouramento
E um trilho de se bater enxada
Uma pedra de amolar lá na calçada
E num cambito os arreios do alasão
Lembro até do cadelo tubarão
Cão de guarda da nossa moradia
Não esqueço o local que ele dormia:
No batente de pau do casarão
6- para entrar na sala da morada
Se cruzava o batente de aroeira
Se via ao lado uma espreguiçadeira
Que por meu pai era sempre ocupada
Para dar aquela descansada
Todo dia após a refeição
Eu também me deitava ali no chão
E dava uma boa cochilada
Mas com a minha cabeça encostada
No batente de pau do casarão
7- foi neste Sítio do Pelado
Que criei-me sem muitas moradias
Apesar de viver sem regalias
Não me sentia inferiorizado
Nunca ouvia um som sofisticado
Sem a imagem de uma televisão
Para mim a única diversão
Que me entretia e animava
Era as histórias que minha mãe contava
No batente de pau do casarão
8- como não tínhamos divertimentos
Mamãe prá nos dar mais emoções
Envolvia-nos com novas sensações
Vasculhadas dos seus conhecimentos
Criava até falsos elementos
Como bruchas, guerreiros ou dragão
Caroxinha ou vara de condão
Lobisomem ou reino encantado
E nós atentos ouvindo ao seu lado
No batente de pau do casarão
9-criei-me aqui no Curimataú
Desde novo enfrentando desafios
Nessas águas salgadas desses rios
Pesquei muita piaba e sabaru
Aprendi a nadar num mulungu
E vivia como um gererê na mão
Minha mãe me esperando no portão
Para tratar dos peixinhos que eu trazia
Acentadinha em frente a moradia:
No batente de pau do casarão
10- nem tudo que passa a gente esquece
Fica sempre gravado na lembrança
E na medida que a idade avança
Alguma passagem permanece
E comigo é isto que acontece
E não sai de minha imaginação
Tem momentos que sinto a sensação
Que estou vendo mamãe lá na calçada
Pelos seus nove filhos rodeada
No batente de pau do casarão
11-aquela casa senhores ainda existe
Só que ao adentrar no salão
Se vê é uma “bela” televisão
Dvds, gravadores microsistem
Só uma peça antiga resiste
Comprovando a sua duração
Quando usada em uma construção
Pode tornar-se uma peça milenária
E a prova encontrada nessa área
É o batente de pau do casarão
12- na floresta curimatauzeira
Temos cinco espécies resistentes
Que zeladas, frondosas e florescentes
Se destacam de uma tal maneira
O Pereiro, a Baraúna, a Craibeira
E o Angico nascido no sertão
Já provaram para a população
Dão as obras uma vida prolongada
Como a Aroeira está sendo aprovada
Com o batente de pau do casarão
13-seria bom que os proprietários
Prá preservarem estas espécies nativas
Criassem ordens proibitivas
Alertando os seus funcionários
Para manterem a conservação
Não levando estas árvores a extinção
Deixando-as crescerem na floresta
Prá no futuro termos peças iguais a esta
Como o batente de pau do casarão
14- sabemos que se todos preservarem
Estas árvores da flora brasileira
Dando a prova real verdadeira
Que estão decididos a não cortarem
Quando todos se conscientizarem
que a mata nativa é o pulmão
e oxigênio para a população
poder viverem saudosamente
e ainda nos dá futuramente
outros batentes de pau de casarão
15- findo pedindo ao poder judiciário
De todas instâncias do pais
Que queiram ver nosso povo mais feliz
Liberando o programa da Diário
Pois achamos ser mais que necessário
Para nós deste estado co-irmão
Aos domingos termos uma diversão
Com duplas repentistas de primeira
Cantando motes da cultura brasileira
Como o batente de pau do casarão
Joselito Macedo: popular Daxinha
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